quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Solidariedade não é utopia
Paiva Netto

A professora de História Iramara Fluminhan, ao chegar recentemente em sala de aula, foi surpreendida pelos alunos com um inesquecível gesto de amor e solidariedade.
A turma de estudantes cursa o 9º ano do Conjunto Educacional Boa Vontade, em São Paulo/SP, e seu nobre propósito foi manifestar carinho à querida educadora ao saber que ela enfrenta grande desafio em sua vida.
Os jovens colocaram lenços na cabeça, semelhantes ao usado por Iramara, que provisoriamente adotou o acessório por causa de tratamento quimioterápico.
Isabele Vasquez, 15 anos, autora da feliz iniciativa, que imediatamente teve a adesão dos demais colegas, explicou: “Ela é uma professora que dá conselhos, além de ser muito competente e exigente. Todos gostam muito dela, pois sabemos que isso é para o nosso bem”. Renata Santana, 13 anos, também comentou: “Isso é um carinho para uma pessoa que a gente ama muito”.
Iramara Fluminhan leciona no Conjunto Educacional Boa Vontade há 15 anos, onde são aplicadas a Pedagogia do Afeto e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico.
O testemunho de perseverança e entusiasmo dessa dedicada educadora é igualmente um destacável exemplo: “Eu falo que os desafios são presentes, sejam eles quais forem. Acredito que, em todos os momentos da vida, eles aparecem, e aqui dentro apreendi a fé, que me fortalece. (...) Estaria longe de minha prática se estivesse derrubada, completamente longe daquilo em que acredito e que tenho certeza. Então, os planos não mudam. Vivo o dia a dia e continuo o meu trabalho. Faço aquilo em que acredito, e tudo que é realizado com prazer faz com que você se levante todos os dias e fale: ‘vou realizar mais um dia na minha vida’”.
Quanto à dificuldade que vivencia na saúde, diagnosticada em meados de 2014, Iramara não se abate. “Observo tantas pessoas que enfrentam problemas muito mais graves do que o meu, de modo que não tenho o direito de me sentir mais vitimada do que qualquer outro ser humano que esteja vivendo a fome ou o abandono, por exemplo. Eu me sinto agradecida pela qualidade das coisas que tenho, desde os médicos até os meus colegas de trabalho e os meus alunos”, afirma.
A meritória ação estudantil, realmente digna de receber nota 10, tem uma razão, segundo a docente: “Amor, que é o que a gente ensina aqui dentro [no Conjunto Educacional]. Sou uma pessoa extremamente exigente, cobro o tempo todo deles, porque sabem que o futuro só depende deles mesmos, de maneira que vejo essa ação dos alunos como uma atitude de amor, de respeito, de solidariedade. Tudo aquilo que a gente ensina aqui se consegue visualizar nas atitudes de todos os nossos estudantes. Não são diferentes de nenhum outro adolescente, (...) mas eles têm amor uns pelos outros, amor pela escola em que estudam e amor pelos seus professores”.
Eis, portanto, uma mostra de que a formação de seres humanos solidários, generosos e justos não é utopia. Aliás, essa lição dos moços, cujos dados colhi nosite da LBV, tem sido apreciada pelos internautas, que a estão espalhando pelas redes sociais. As boas causas merecem ser compartilhadas.
Professora Iramara, que Deus lhe abençoe a saúde!

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Altruísmo — uma revolução
Paiva Netto

Ao falarmos em Amor fraterno e universal, absolutamente não nos queremos situar no reino das nuvens. Temos, contudo, certeza de que o sentimento bom, de generosidade, é fator primordial para uma civilização em que o Espírito eterno do ser humano seja o fulcro. Sobre este firma-se a revolução que ainda urge ser concluída, aquela que se realiza na Alma das criaturas e por intermédio delas se perpetua. E aí entra a educação eficiente.
Lição do saudoso sociólogo Herbert de Souza (1935-1997), o Betinho, que devemos recordar: “A partir da ética é possível formular os cinco princípios concretos da democracia: igualdade, liberdade, diversidade, participação e solidariedade — existindo simultaneamente”.
Bem merecido e exato foi o prêmio cultural que recebeu no fim de 1996, do ParlaMundi da LBV, em Brasília/DF: a “Ordem do Mérito da Fraternidade Ecumênica”, na categoria “Solidariedade”. Como escrevi no artigo “Um cidadão chamado Solidariedade”: A luta contra a fome, da qual Betinho se tornou poderoso aríete, naturalmente reclama constantes investidas. (...)
De meu ensaio literário “Sociologia do Universo”, consoante nossa crença no valor do altruísmo, ressalto que não é por acreditarmos nele, até na área dos negócios, que devamos ser considerados tolos. Temos consciência plena dos estorvos, até mesmo nos campos econômico e social, a exemplo da tragédia da corrupção, que qualquer comunidade ou país precisa corajosamente enfrentar e ultrapassar. Ao propor, há décadas, a Economia da Solidariedade Espiritual e Humana, como Estratégia de Sobrevivência, tomamos parte na rigorosa torcida que deseja ver os muitos senões que prejudicam trabalhadores, empresas, sociedade e crenças em definitivo corrigidos por aqueles capazes de fazê-lo.
Quando mais o ameaça a violência, o desenvolvimento de um povo não pode prescindir do espírito humanitário, aliado ao de íntegra justiça. Os persas, que seguiam a doutrina de Zaratustra (628-551 a.C.), ensinavam: — Aquele que é indiferente ao bem-estar dos outros não merece ser chamado homem”.
Um dos mais expressivos filósofos espanhóis, José Ortega y Gasset (1883-1955), vem ao encontro desse antigo preceito, ao afirmar: Estado e projeto de vida, programa de ação ou conduta humanos são termos inseparáveis. As diferentes classes de Estado nascem das maneiras segundo as quais o grupo empreendedor estabeleça a colaboração com os outros”.
 Deng Xiaoping (1904-1997), que iniciou no século 20 uma série de profundas reformas na China, destacou uma lição do que não se deve fazerpara alcançar a concórdia: “— Há pessoas que criticam os outros para ganhar fama, pisando os ombros alheios para ascender a posições-chave”.
Por tudo isso, o que sugerimos, alicerçados em Jesus, vai além do que inspirou a economia solidária estudada pelo ilustre sociólogo Émile Durkheim (1858-1917). A Economia da Solidariedade Espiritual e Humana, que preconizamos, é holística, porquanto nos convida a vislumbrar a nossa verdadeira origem, a espiritual. Somente assim haverá a humanização e a espiritualização do Estado e da própria criatura, ou seja, sob o banho lustral da Caridade Ecumênica, que não faz distinção de pessoas, pois considera que — acima de cor, crença, descrença, visão política, orientação sexual, idade — estamos diante de seres terrenos, que suplicam por socorro e compreensão (...).
Bem a propósito, declarou o heroico Nelson Mandela (1918-2013): — A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta”.
Portanto, coloquemos sempre um pouco de misericórdia, somada ao justo bom senso, no nosso olhar, nas atitudes para com o próximo, conhecido ou não; na interação com o vizinho, seja ele indivíduo ou país. A verdadeira Paz pode vir também desse entendimento.
E, para encerrar, esta eloquente reflexão de Confúcio (551-479 a.C.): “— Paga-se a bondade com a bondade, e o mal com a justiça”.

José de Paiva Netto — Jornalista, radialista e escritor.