quinta-feira, 28 de abril de 2016

Aplacar a tempestade
Paiva Netto

Diante das mais variadas situações, em que a dor e o sofrimento chegam, muitas vezes sem avisar, é imprescindível o gesto solidário das criaturas em prestar socorro material e espiritual ao próximo. E, ao lado desse apoio imediato, é preciso alimentar a força da esperança e da Fé Realizante, que levam o ser humano a se manter sob a proteção do Pai Celestial e o estimulam a arregaçar as mangas e concretizar suas mais justas súplicas.
Nos desafios da existência, recordemos sempre a palavra de conforto e ânimo renovados de Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista, constante do Seu Evangelho segundo Mateus, 8:23 a 27; Marcos, 4:35 a 41; e Lucas, 8:22 a 25. A seguir, o texto da Boa Nova unificado por Wantuil de Freitas:
“Aconteceu que, num daqueles dias, Jesus tomou uma barca, acompanhado pelos Seus discípulos; e eis que se levantou no mar tão grande tempestade de vento que as ondas cobriam a barca, enquanto Jesus dormia na popa, sobre um travesseiro. Os discípulos O acordaram aos brados, dizendo: ‘Salva-nos, Senhor, nós vamos morrer!’. E Jesus lhes respondeu: ‘Por que temeis, homens de pequena fé?’. Então, erguendo-se, repreendeu os ventos e o mar; e se fez grande bonança. Aterrados e cheios de admiração, os discípulos diziam uns aos outros: ‘Afinal, quem é Este, que até o vento e o mar Lhe obedecem?’”.

ENFRENTAR E VENCER AS TORMENTAS
O que tem sido a vida humana, para muitos, a não ser o atravessar de procelas, que devemos vencer, não fugindo delas? Vejamos o exemplo na própria náutica. Quando há uma tempestade com vagalhões, o comandante embica a proa do navio na direção das vagas, se ele, surpreendido pela tormenta, não pôde fugir dela. Não vira para o lado, não dá às vagas os seus costados. Senão, o barco corre o grave risco de adernar e até submergir. Assim cada um de nós tem de ser. Enfrentar as tormentas do cotidiano com o potente navio que o Excelso Navegador nos oferece, que é o nosso corpo, conduzido pelo Espírito, mesmo quando enfermo. Encarar a tempestade e vencê-la, derrubadas as ilusões da vida. Porque aí é possível sonhar com um mundo melhor. Iludirmo-nos é que não podemos. E, quando o temporal estiver mais forte, a ponto de pensarmos que soçobraremos — ou, o que é pior, acharmos que o Comandante Celeste está distraído, descansando —, tenhamos a certeza de que o Divino Timoneiro não dorme. Jesus sempre se encontra alerta, pronto a orientar a Sua tripulação, indicando-lhe novas viagens pelo planeta inteiro, esperando que mostre a sua capacidade e perseverança.
“Por que temeis, homens de pequena fé?”.
Assimilemos o quanto antes essa repreensão justa de nosso Mestre, pois, de qualquer forma, na hora certa, Ele vai erguer-se, repreender os ventos e o mar, e far-se-á paz nos corações.
Tudo neste mundo pode ficar fora do controle dos homens, mas nada escapa ao comando de Deus. Portanto, quanto mais perto Dele, mais longe dos problemas.

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com

terça-feira, 19 de abril de 2016

A Carta do Chefe Seattle

Paiva Netto


Atendendo a pedidos de leitores que nos acompanham em diversos jornais do país, trago texto que transcrevi na minha série de artigos, publicados no jornal Folha de S.Paulo, durante o ano de 1986. Sei de muitos amigos — do rádio, da imprensa, da televisão, da internet e de defensores da Mãe Natureza — que gostariam de possuir a famosa carta do Chefe Seattle (1787-1866). 
Recebi, em 1986, do jornalista Walter Periotto, então embaixador da LBV, nos Estados Unidos, essa página sobre a qual muita gente já ouviu falar, mas que ainda não teve oportunidade de conhecer. Trazemos hoje, à meditação de todos este documento:

"Quem é dono do céu, do brilho das águas?"
(Tradução do texto considerado autêntico da Carta do Chefe Seattle, que, em 1855, respondeu à proposta dos Estados Unidos de comprar a terra dos índios. O texto procede do UNEP — Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.)
"Como podeis comprar ou vender o céu, a tepidez do chão? A ideia não tem sentido para nós.
"Se não possuímos o frescor do ar ou o brilho da água, como podeis querer comprá-los?
"Qualquer parte desta terra é sagrada para meu povo. Qualquer folha de pinheiro, qualquer praia, a neblina dos bosques sombrios, o brilhante e zumbidor inseto, tudo é sagrado na memória e na experiência de meu povo. A seiva que percorre o interior das árvores leva em si as memórias do homem vermelho.
"Os mortos do homem branco esquecem a terra de seu nascimento quando vão pervagar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta terra maravilhosa, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumosas são nossas irmãs; os gamos, os cavalos, a majestosa águia, todos são nossos irmãos. Os picos rochosos, a fragrância dos bosques, a energia vital do pônei e o homem, tudo pertence a uma só família.
"Assim, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossas terras, ele está pedindo muito de nós. O Grande Chefe manda dizer que nos reservará um sítio onde possamos viver confortavelmente por nós mesmos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Se é assim, vamos considerar a sua proposta sobre a compra de nossa terra. Mas tal compra não será fácil, já que esta terra é sagrada para nós.
"A límpida água que percorre os regatos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos ancestrais. Se vos vendermos a terra, tereis de vos lembrar que ela é sagrada, e deveis lembrar a vossos filhos que ela é sagrada, e que qualquer reflexo espectral sobre a superfície dos lagos evoca eventos e fases da vida de meu povo. O marulhar das águas é a voz dos nossos ancestrais. Os rios são nossos irmãos, eles nos saciam a sede. Levam as nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se vendermos nossa terra a vós, deveis vos lembrar e ensinar a vossas crianças que os rios são nossos irmãos, vossos irmãos também, e deveis a partir de então dispensar aos rios a mesma espécie de afeição que dispensais a um irmão.
"Nós sabemos que o homem branco não entende o nosso modo de ser. Para ele um pedaço de terra não se distingue de outro qualquer, pois é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo de que precisa. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga; depois que a submete a si, que a conquista, ele vai embora, à procura de outro lugar. Deixa atrás de si a sepultura de seus pais e não se importa. Sequestra os filhos da terra e não se importa. A cova de seus pais e a herança de seus filhos, ele as esquece. Trata a sua mãe, a terra, e a seu irmão, o céu, como coisas a serem compradas ou roubadas, como se fossem peles de carneiro ou brilhantes contas sem valor. Seu apetite vai exaurir a terra, deixando atrás de si só desertos. 
"Isso eu não compreendo. Nosso modo de ser é completamente diferente do vosso. A visão de vossas cidades faz doer aos olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e como tal nada possa compreender.
"Nas cidades do homem branco não há um só lugar onde haja silêncio, paz. Um só lugar onde ouvir o farfalhar das folhas na primavera, o zunir das asas de um inseto. Talvez seja porque sou um selvagem e não possa compreender.
"O barulho serve apenas para insultar os ouvidos. E que vida é essa onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs à margem dos charcos à noite? O índio prefere o suave sussurrar do vento esfrolando a superfície das águas do lago, ou a fragrância da brisa, purificada pela chuva do meio-dia ou aromatizada pelo perfume das pinhas.
"O ar é precioso para o homem vermelho, pois dele todos se alimentam. Os animais, as árvores, o homem, todos respiram o mesmo ar. O homem branco parece não se importar com o ar que respira. Como um cadáver em decomposição, ele é insensível ao mau cheiro. Mas, se vos vendermos nossa terra, deveis vos lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar insufla seu espírito em todas as coisas que dele vivem. O ar que nossos avós inspiraram ao primeiro vagido foi o mesmo que lhes recebeu o último suspiro.
"Se vendermos nossa terra a vós, deveis conservá-la à parte, como sagrada, como um lugar onde mesmo um homem branco possa ir sorver a brisa aromatizada pelas flores dos bosques.
"Assim consideraremos vossa proposta de comprar nossa terra. Se nos decidirmos a aceitá-la, imporei uma condição: o homem branco terá de tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
"Sou um selvagem e não compreendo de outro modo. Tenho visto milhares de búfalos a apodrecerem nas pradarias, deixados pelo homem branco que neles atira de um trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante que o búfalo, que nós caçamos apenas para nos manter vivos.
"Que será do homem sem os animais? Se todos os animais desaparecessem, o homem morreria de solidão espiritual. Porque tudo que aconteça aos animais pode afetar os homens. Tudo está relacionado.
"Deveis ensinar a vossos filhos que o chão onde pisam simboliza as cinzas de nossos ancestrais. Para que eles respeitem a terra, ensinai a eles que ela é rica pela vida dos seres de todas as espécies. Ensinai a eles o que ensinamos aos nossos: que a terra é a nossa mãe. Quando o homem cospe sobre a terra, está cuspindo sobre si mesmo.
"De uma coisa temos certeza: a terra não pertence ao homem branco; o homem branco é que pertence à terra. Disso temos certeza. Todas as coisas estão relacionadas como o sangue que une uma família. Tudo está associado.
"O que fere a terra fere também os filhos da terra. O homem não tece a teia da vida; é antes um de seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio.
"Mesmo o homem branco, a quem Deus acompanha, e com quem conversa como amigo, não pode fugir a esse destino comum. Talvez, apesar de tudo, sejamos todos irmãos. Nós o veremos. De uma coisa sabemos — e que talvez o homem branco venha a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Podeis pensar hoje que somente vós O possuís, como desejais possuir a terra, mas não podeis. Ele é o Deus do homem e Sua compaixão é igual tanto para o homem branco quanto para o homem vermelho. Esta terra é querida Dele, e ofender a terra é insultar o seu Criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminai a vossa cama, e vos sufocareis numa noite no meio de vossos próprios excrementos.
"Mas no vosso parecer, brilhareis alto, iluminados pela força do Deus que vos trouxe a esta terra e por algum favor especial vos outorgou domínio sobre ela e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos como será no dia em que o último búfalo for dizimado, os cavalos selvagens domesticados, os secretos recantos das florestas invadidos pelo odor do suor de muitos homens e a visão das brilhantes colinas bloqueadas por fios falantes. Onde está o matagal? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. O fim do viver e o início do sobreviver".

Respeitável exemplo

Quanta sabedoria e humanidade no pensamento de um homem considerado selvagem!...
Que elas não falhem nos civilizados, quando enlouquecidos pela cegueira de domínio, a qualquer preço, dos seus semelhantes. 
A Mãe Terra talvez não suporte nossas travessuras de “macacos em loja de louças”.

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.


paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Do gosto popular

Paiva Netto


Gostaria de compartilhar com vocês algumas reflexões que venho registrando em meus livros ao longo das décadas:
Os Simples são os que lutam por tornarem-se puros de coração. E desse modo devem ser, porque estes verão Deus face a face, como revela Jesus nas “Bem-Aventuranças do Sermão da Montanha”, uma das mais importantes páginas da literatura espiritual planetária, assim considerada pelo Gandhi. [As Profecias sem Mistério, 1998.]
Minha confiança nas Profecias de Deus: Tudo o que foi anunciado pelo Pai Celestial será cumprido. Tudo! Disse o Cristo:“Não penseis que vim destruir a Lei ou os Profetas; não os vim destruir, mas fazê-los cumprir. Porque em verdade, em verdade vos digo que, enquanto o céu e a terra não passarem, nem um só ‘i’ e nem um só til da Lei passará, sem que tudo se cumpra"(Evangelho de Jesus, de acordo com os relatos de Mateus, 5:17 e 18). Entretanto, unicamente aqueles que se esforçam por ter“olhos de ver e ouvidos de ouvir" percebem essa perfeita atuação do Planejamento Celeste em plena marcha, que independe das decisões humanas favoráveis a ele ou não. Se semearmos, colheremos, portanto, o que houvermos plantado de bom ou de ruim: “A cada um de acordo com as suas obras”, Profeta , 34:11, Antigo Testamento da Bíblia Sagrada. [Jesus, o Profeta Divino, Editora Elevação, 2011.]

 

As Boas Obras e o capital

Em fevereiro de 2000, ao me dirigir aos educadores da rede de ensino da LBV, declarei: O Buda (563-483 a.C.) afirmava serem as criaturas, bem como todas as coisas neste orbe, constituídas de uma única essência, diferindo-se apenas umas das outras segundo as formas que adquirem, em virtude das influências exercidas sobre elas. Consequentemente, no caso dos seres humanos, seus atos os caracterizam. Por isso, em sua longa jornada, o fundador do Budismo não se cansava de apontar as boas ações como um dos elevados caminhos para a iluminação: "Não façais pouco caso do mal, dizendo: ‘Ele não recairá sobre mim’. A água, embora caindo gota a gota, acaba por encher o vaso; o mal, embora praticado pouco a pouco, acaba por encher a Alma do transgressor".
E aqui uma máxima a que gosto de recorrer: Mahatma Gandhi (1869-1948), numa frase lapidar, retratou a realidade:"O capital em si não é mau; o uso incorreto dele é que é ruim".
Exato! Por isso, é preciso compreender a amplitude da lição de Paulo Apóstolo, em sua Primeira Epístola a Timóteo, 6:10, ao considerar que "o dinheiro é a raiz de todos os males". Realmente, mas quando dele não fazemos bom emprego. Um marcante exemplo de como aplicar bem as riquezas por Deus em nós depositadas, encontramos na Parábola do Bom Samaritano (Boa Nova de Jesus, consoante Lucas, 10:25 a 37). Exercer a Caridade material e espiritual é o melhor dos fundos de investimento. É o altruísmo iluminado pela generosidade e pela justiça, capaz de promover o progresso geral. Eis um dos temas que desenvolvo em O Capital de Deus.

Internauta do Benin

Recebemos e-mail (em francês) da leitora Dele Gladys, de Cotonou, Benin, que grande alegria nos trouxe ao coração. Nossos modestos escritos, que correm o mundo pela internet, levam conforto à Alma de muita gente.
"Bom dia! (…) Quero apenas agradecer por tudo o que nos disse a respeito da Síndrome de Down. Isso nos dá coragem para seguir em frente. Eu tenho uma filha adorável com Síndrome de Down, de 30 meses (2 anos e 6 meses), muito vivaz, apesar de sua deficiência.
"Ela operou o coração com 24 meses e nós, seus pais, temos confiança plena no futuro dela. Uma vez mais, muito obrigada pelo interesse que vocês têm neles."
Prezada Dele Gladys, que Deus a abençoe e ampare sempre sua querida filhinha!

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
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segunda-feira, 11 de abril de 2016

Realidade da Vida em outras dimensões

 

Paiva Netto


Estamos realizando no mundo uma fundamental tarefa na promoção do Desenvolvimento Social e Sustentável, Educação e Cultura, Arte e Esporte, com Espiritualidade Ecumênica, para que haja Consciência Socioambiental, Alimentação, Segurança, Saúde e Trabalho para todos os seus componentes, despertando neles a Cidadania Planetária. Mas, para que haja a Espiritualidade Universal, é necessário que essa obra de Educação e Cultura seja feita também com a Espiritualidade. Observaram a filigrana? Com a Espiritualidade Superior.
Nossos amigos do Mundo Espiritual são invisíveis? Um dia seremos tão invisíveis quanto eles, o que não significa que tenhamos morrido, tornando-nos o pó da terra, como alguns ainda preferem, pensando que a morte acaba com tudo. Evidentemente que no tocante ao corpo material — que veio da terra e à terra retornará — ocorre dessa maneira, conforme podemos ler no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada, Eclesiastes, 3:20: “Lembra-te, homem, que és pó e ao pó retornarás”. Contudo, tais palavras do profeta não se aplicam ao Espírito, que é eterno e do qual Jesus falou: “A carne para nada serve. O espírito é que vivifica” (Evangelho de Jesus, segundo João, 3:8 e 6:63). Um dia seremos tão invisíveis quanto eles, os Espíritos, o que não significa que tenhamos morrido, tornando-nos o pó da terra.
A Humanidade Espiritual é até hoje invisível aos nossos olhos materiais, porém ela existe. O Mundo Espiritual não é uma abstração.
A Ciência já pesquisa a possibilidade da existência em diferentes dimensões, além do fato de também investigar a vida em outros planos materiais, astros, sistemas, galáxias, porque seria arrogância humana pretender que não exista vida fora do planeta Terra. Se os de Boa Vontade não se unirem, o que vai ocorrer, justamente provocado por essa soberba descabida, é que a vida poderá deixar de existir no próprio orbe terrestre, porque ainda há descomedidos com armas potentíssimas. Em suas mãos, continuam artefatos poderosos, não apenas nucleares, mas também químicos, bacteriológicos e daí por diante. O que demonstra que a Humanidade, ou pelo menos alguns dos que se encontram à frente dela, está precisando refletir melhor. Vive no íntimo desses líderes um temor que lhes provoca uma defesa contra fantasmas concebidos em suas mentes, e eles se armam, se armam, se armam... sem falarmos na ganância sem freios. Enquanto isso, povos permanecem famintos, famintos, famintos... porque é um absurdo o que se gasta com arsenais até hoje, mesmo depois da queda do Muro de Berlim (1989), quando os povos puderam respirar um pouco melhor, em virtude do fim da guerra fria. Mas o perigo continua, porque o ódio, a cobiça e a insolência ainda atormentam os corações humanos. (...)

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com 

terça-feira, 5 de abril de 2016

As Olimpíadas do Espírito

Paiva Netto


Em 1896, o Rei Jorge I, da Grécia, abria em Atenas a moderna fase das Olimpíadas. O imperador romano Teodósio I encerrara, em 393 da chamada Era Cristã, o primeiro período dos famosos jogos que imortalizaram Olímpia, cidade situada na parte ocidental da península do Peloponeso. Considerou-os pagãos. Pelo espaço de 1.500 anos a ideia ficou adormecida, até que o Barão Pierre de Coubertin, em 1892, para uma nova época nos esportes, iniciou as providências que, em 1894, levaram ao “Congresso pelo restabelecimento dos Jogos Olímpicos”, o que se deu em 1896 na milenar capital helênica. Milhares de pessoas viram a competição entre treze países em nove modalidades: atletismo, natação, ciclismo, luta, halterofilismo, tênis, ginástica, esgrima e tiro. Participaram 285 atletas. No princípio quase ninguém acreditava na retomada dos jogos. Em Paris, 1900, houve a primeira participação das mulheres: seis concorreram nas provas de tênis. O Brasil ingressou nas competições somente em 1920, em Antuérpia, Bélgica. De lá trouxe a sua primeira medalha de ouro: Guilherme Paraense, pistola automática, na prova de tiro.
Conta a mitologia grega que da luta entre Zeus e Cronos pela posse da Terra nasceram os Jogos Olímpicos, que ao longo de toda a Antiguidade observaram caráter religioso. Em 776 AD, fixaram-se em Olímpia que, também de quatro em quatro anos, promovia uma “reunião de Paz, Fraternidade, cooperação e amizade entre os povos”. Sob a mesma invocação, De Coubertin resgatou aquelas empolgantes disputas para os nossos dias. É dele esta consideração que se tornou conceito máximo das Olimpíadas: “O importante não é vencer, mas competir”.

Equação Espírito-matéria — As Olimpíadas são importantes, porque levam ao respeito do corpo, aliado à Alma da criatura, além de confraternizar povos que antigamente viviam digladiando-se. Mas tudo isso é prefácio do muito que tem de ser feito, no sentido de efetuar-se a equação que harmonize matéria e Espírito. A LBV, suscitando tais assuntos, abre caminhos novos para a Humanidade. 
Para que isto aconteça, não basta ao ser humano ter o corpo são. É necessário possuir o Espírito, sua parte eterna, também sadio. Equivocam-se os governantes de nações que insistem unicamente no aperfeiçoamento atlético e intelectual dos seus compatriotas. Menosprezam o precípuo: a indispensável formação espiritual do povo, de preferência firmada no Mandamento Novo do Cristo: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos. (...) Não há maior Amor do que doar a própria Vida pelos seus amigos (...) Porquanto da mesma forma como o Pai me ama, Eu também vos amo. Permanecei no meu Amor. (...) Quem cumpre o meu Novo Mandamento não morrerá mais: já passou da morte para a vida, pois todo aquele que crê em mim, jamais morrerá”. (Evangelho de Jesus, segundo João, 13:34 e 35, 15:12 e 13, 15:9, 5:24 e 11:26.) Eis a indispensável lei de solidariedade mundial. Sem isto, a criatura é fatalmente levada às desilusões, aos erros e às frustrações, declaradamente ou não. É quando a mocidade se entrega aos vícios mais terríveis. O maior sofrimento é a ausência de Amor. (...)

Não repetir o passado — Hoje, deve haver o cuidado que é de todos, para que não se venha a repetir agora, no mundo, o que se deu nos tempos antigos — “os jogos cresciam em importância e a corrupção acompanhava o ritmo”. Mais tarde, com a tomada da Hélade pelos romanos, total foi o prejuízo para a competição, em consequência da visão distorcida que os conquistadores tinham do esporte. Segundo relatos antigos, a situação chegou a tal ponto que, no ano 68, Nero (37-68), competindo sozinho, tornou-se “vencedor” — vejam só! — de uma corrida de cavalos, sem que ao menos alcançasse a linha de chegada, pois os corcéis haviam rompido as rédeas.

Olimpíadas do Espírito — A lição ficou, de modo que a Chama Olímpica jamais volte a apagar-se. Pelo contrário, que afaste dos passos humanos a escuridão. Senão, o que veremos? O trágico fim de um ideal que avança além do campo dos esportes, lastimavelmente transformado em olim - piadas... Certamente, o esforço de De Coubertin e de outros idealistas seguirá caminho luminoso pela História, juntando, lá adiante, às notáveis competições do corpo as do Espírito. Com frequência, os pensadores confundem Espírito com mente. Não falo aqui desta, mas da Energia Divina Racional que a ilumina e que sobrevive à matéria, obedecendo a leis universais que, com sabedoria, a regem desde a criação dos mundos. Sem respeitá-la, o Homem-corpo é mais ou menos aleijado; sem ela, é simplesmente o cadáver. Corpo e Espírito esclarecido são partes inseparáveis para o surgimento da verdadeira civilização na Terra. Um viva! às Olimpíadas dos músculos, mas também um vibrante salve! às Olimpíadas do Espírito.
De fato, o Esporte não surgiu para extravasar o ódio do ser humano. Daí a campanha que lancei na LBV, no fim da década de 1970: Esporte é vida, não violência!

José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.

sábado, 2 de abril de 2016

Aqui se estuda. Formam-se Cérebro e Coração

 

Paiva Netto


Num clima de muita alegria, tive a honra de comandar, em 4 de julho de 2009, a sessão solene de encerramento do 34o Fórum Internacional da Juventude Ecumênica da Boa Vontade, cujo tema foi inspirado no meu artigo “É urgente reeducar!”. Esse documento, também editorial da revista Sociedade Solidária, foi encaminhado pela LBV à Organização das Nações Unidas, ONU, em vários idiomas.
Durante o Fórum — transmitido pela Super Rede Boa Vontade de Comunicação (rádio, TV e internet), apresentei trechos de outra página minha, constante do livro O Capital de Deus. Atendendo a pedidos, trago alguns apontamentos que fiz naquele dia memorável:
O Espírito do ser humano, na Terra, é, no campo social, o começo de tudo. Não se pode modificá-lo por decreto.
É claro que as leis que promovem educação, saúde, alimentação, emprego, portanto condições melhores de vida, vão dar resultado, se bem estruturadas, regulamentadas e respeitadas. Contudo, não se transforma realmente uma pessoa por pura e simples imposição.
Trata-se de largo trabalho que deve, além de instruir e educar, principalmente reeducar, o que significa dizer: iluminar a instrução comum com o luzeiro da Espiritualidade Ecumênica. A cultura humana, por milênios de progresso intelectual, tem se firmado em termos gerais na falsa perspectiva de que as criaturas podem por inteiro realizar-se pelos bens materiais ou circunstâncias fora delas próprias. Torna-se imprescindível grande força de vontade individual e disciplina interior para romper a ignorância e perceber que a maior e mais completa de todas as riquezas, que é o Reino de Deus, “está dentro de nós” (Evangelho de Jesus, segundo Lucas, 17:21).
Conforta-nos o conhecimento de que o Universo é dotado de sábio mecanismo para nos resgatar dos pesadelos terrenos, desde que estejamos, de fato, decididos a deixá-los para trás. Antigo ditado oriental ensina que “quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”. Albert Einstein (1879-1955) define: “Deus é sutil, mas não é maldoso”.
Insisto que não se trata apenas de ampliar os horizontes culturais do educando, o que é necessário, mas não é tudo. Em geral, quando se fala em cultura neste mundo, resume-se somente ao intelecto, e não é o suficiente. No Conjunto Educacional Boa Vontade em São Paulo e em suas escolas no país, encontra-se, em destaque, logo na entrada: Aqui se estuda. Formam-se Cérebro e Coração.

Luz e sabedoria espiritual
Aquele que experimenta, um pouco que seja, dos cenários divinos que habitam sua Alma não mais se conforma com as recompensas superficiais e efêmeras do egoísmo. Ao contrário, lutará incessantemente para despir-se das ilusões de seu ego, a fim de trajar-se com o cintilante tecido do Amor e da Justiça universais. Essa metamorfose espontânea do indivíduo — descoberta da verdadeira identidade espiritual — é fórmula segura e duradoura para a almejada reforma da sociedade, que não virá em sua plenitude se o Espírito do cidadão (ou cidadã) não for levado em alta conta.
O Novo Céu da consciência de cada um, gerando a Nova Terra da harmonia e do respeito entre todos, na Religião, na Política, na Ciência, no Esporte, na Arte, na Economia, na vida doméstica e na vida pública, e assim por diante, é instaurar no planeta a civilização que o Divino Estadista aguarda de nós.

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.