terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

REFLEXÃO DE BOA VONTADE

Um tirano vencido
Paiva Netto

Será essa questão de morte realmente uma questão de morte?...
Na verdade, para falar com correção, a morte é um assunto essencial de Vida (ou da Vida). O pastor evangélico, adventista do Sétimo Dia e renomado intérprete do Apocalipse Uriah Smith (1832-1903) definiu-a como “um tirano vencido”.
Essa realidade, contudo, não dá a ninguém o direito de suicidar-se, porque a morte não interrompe a existência do Espírito, pois, quando desperta no Mundo das Realidades Eternas, ele (ou ela) se descobre mais vivo (ou mais viva) do que nunca e com todas as suas preocupações a acompanhá-lo (ou acompanhá-la) e de maneira mais intensa. No entanto, é espantoso como o ser humano, até o de maior cultura, muita vez despreza, cético, um tema do qual não poderá esquivar-se, alegando não ser este científico, porém religioso.
Cabe então, aqui, este comentário do mais famoso e popular cientista do século 20, o judeu-alemão Albert Einstein (1879-1955). Conclui o enunciador da Teoria da Relatividade: “Falando do espírito que impregna as investigações científicas modernas, creio que todas as especulações mais refinadas no campo da ciência provêm de um profundo sentimento religioso e que, sem esse sentimento, elas seriam infrutíferas. Creio também que esse tipo de religiosidade que hoje se faz sentir nas investigações científicas é a única atividade religiosa criativa de nossa época”.
Agora, uma curiosidade: na religião judaica, cemitério, em hebraico, quer dizer “casa da eternidade”.

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

REFLEXÃO DE BOA VONTADE

As Boas Obras e o capital
Paiva Netto

Em fevereiro de 2000, ao me dirigir aos educadores da rede de ensino da LBV, declarei: O Buda (563-483 a.C.) afirmava serem as criaturas, bem como todas as coisas neste orbe, constituídas de uma única essência, diferindo-se apenas umas das outras segundo as formas que adquirem, em virtude das influências exercidas sobre elas. Consequentemente, no caso dos seres humanos, seus atos os caracterizam. Por isso, em sua longa jornada, o fundador do Budismo não se cansava de apontar as boas ações como um dos elevados caminhos para a iluminação: “Não façais pouco caso do mal, dizendo: ‘Ele não recairá sobre mim’. A água, embora caindo gota a gota, acaba por encher o vaso; o mal, embora praticado pouco a pouco, acaba por encher a Alma do transgressor”.
E aqui uma máxima a que gosto de recorrer: Mahatma Gandhi (1869-1948), numa frase lapidar, retratou a realidade: “O capital em si não é mau; o uso incorreto dele é que é ruim”.
Exato! Por isso, é preciso compreender a amplitude da lição de Paulo Apóstolo, em sua Primeira Epístola a Timóteo, 6:10, ao considerar que “o dinheiro é a raiz de todos os males”. Realmente, mas, quando dele não fazemos bom emprego. Um marcante exemplo de como aplicar bem as riquezas por Deus em nós depositadas, encontramos na Parábola do Bom Samaritano (Boa Nova de Jesus, consoante Lucas, 10:25 a 37). Exercer a Caridade material e espiritual é o melhor dos fundos de investimento. É o altruísmo iluminado pela generosidade e pela justiça, capaz de promover o progresso geral. Eis um dos temas que desenvolvo em “O Capital de Deus”.


José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

REFLEXÃO DE BOA VONTADE

Antes que seja tarde demais...

Paiva Netto

O Ecumenismo, como o entendemos, é a globalização sublimada pela Solidariedade. É indispensável, portanto, mundializar o Amor Fraterno e espiritualizar a tecnologia e a economia. Com a palavra, Joseph Alois Schumpeter (1883-1950), em A Teoria do Desenvolvimento Econômico: “Um fato nunca é pura ou exclusivamente econômico; sempre existem outros aspectos em geral mais importantes”.
E peço licença a Schumpeter para incluir entre os “outros aspectos em geral mais importantes” os espirituais.
Precisamos entender que a Vida não tem início na Terra, mas no Mundo (ainda) Invisível aos olhos humanos. Cumpre, então, incluir nessas considerações a famosa assertiva de Hamlet: “Há no Céu e na Terra, Horácio, bem mais coisas do que nunca sonhou vossa filosofia”.
São falas iguais a essa que justificam, há séculos, o renome do bardo inglês Shakespeare (1564-1616). Por falar no autor de Romeu e Julieta, 2016 é o ano do quadricentenário de sua morte. Aliás, uma curiosidade: Shakespeare teria nascido num 23 de abril (de 1564) e falecido em outro, só que de 1616.
Ora, antes de carne, somos Espírito, consequentemente, Cidadãos Espirituais, o que nos convoca a estudar, para compreender, as Leis que governam a esplêndida Sociedade que gravita nas esferas invisíveis, que se situam bem acima de nossas cabeças.
Que nós, Humanidade, alcancemos a compreensão disso tudo antes que seja tarde demais! Aquilo que não alcançamos pelo esforço do Amor pode vir a nos atropelar com a rigidez da Mestra Dor.

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Uma história de Amor
Paiva Netto

Vou contar-lhes esta história, porque quem disser que não quer ser amado está doente ou mentindo. Ela começa na Bahia, cruza o sul do país e tem belo desfecho no Rio de Janeiro.
Em 27/1, meus pais, Bruno (1911-2000) e Idalina Cecília (1913-1994), se estivessem entre nós, completariam mais um ano de feliz casamento.
Peço licença a vocês para narrar o autêntico conto de amor que ambos viveram, modelo de perseverança e superação para os que se gostam.
Conheceram-se em Camaçari. Hoje, um dos mais importantes polos petrolíferos do Brasil. Ele tinha 9 anos de idade. Ela estava com 7. Quando cresceram, a família foi contra o namoro por serem primos. Não que fossem pessoas ruins, temiam o grau de parentesco. Então, colocaram meu pai num seminário e mandaram minha mãe, ainda jovem, para o Rio de Janeiro. Passam-se muitos anos, quando meu velho, já sem batina, também vai para a Cidade Maravilhosa. Entretanto, não a encontra nessa primeira tentativa. Desiludido, viaja por várias regiões do país, incluído o sul. Longe de seu verdadeiro amor, volta ao Rio decidido a localizá-la.
Certo dia, na capital carioca, o querido e consagrado compositor e cantor Dorival Caymmi (1914-2008), conhecido deles desde a infância, topa com seu Bruno e lhe diz, com seu sotaque bem baiano: “Ô Ioiô, você sabe quem encontrei? Idalina!! Ela veio, com uma prima, aqui na rádio. Está morando na rua Gregório Neves, no Engenho Novo”. Meu pai não titubeou e dirigiu-se ao endereço indicado por Caymmi. Chegando lá, foi recebido pela minha tia-avó, Amália. Ao vê-lo, ela se vira para dentro de casa e chama em alta voz: “Idalina, o seu primo da Bahia está aqui! Ele veio casar com você!”. E um dado curioso é que, um mês antes desse reencontro, minha mãe terminara seu noivado forçado com um médico. Naquele tempo, o poder patriarcal era uma parada!
Idalina e Bruno uniram-se em 1940, vinte anos depois que se viram pela primeira vez. Adivinhem quem foi o padrinho de casamento? O saudoso Dorival Caymmi, privilegiado marido de Dona Stella Maris (1922-2008) e ditoso pai de Nana, Dori e Danilo, e que sempre encantou as plateias.
Observando o grande exemplo de meus amados pais, relembro, com Lícia (1942-2010), minha irmã, algumas palavras que publiquei em Reflexões e Pensamentos — Dialética da Boa Vontade, lançado em 1987: Assim como o sangue, circulando pelo corpo, oxigeniza e alimenta as células humanas, o Amor, percorrendo os mais recônditos pontos de nossa Alma, fertiliza-a e a torna plena de vida. (...) Ao término de tudo, ele — que se expressa das mais surpreendentes formas no sublime labor de conduzir os homens à sobrevivência — vencerá! Prosseguimos acreditando na vitória final do Espírito Eterno do ser humano, “a Obra Máxima do Criador”, na definição de Alziro Zarur (1914-1979).
E parabéns ao nosso estimado Caymmi que, se estivesse na carne comemoraria mais um aniversário, em 30 de abril (ele nasceu em 1914). Caymmi e dona Stella Maris continuam vivos, pois os mortos não morrem.

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Transformar dor em vitória


Paiva Netto

Não duvidemos de nossa capacidade, como seres espirituais e humanos, de alcançar o hoje considerado insuperável. Temos muito mais aptidão para sobrepujar problemas, por maiores que os julguemos, segundo avalia o médico, psicólogo, filósofo e escritor norte-americano William James (1842-1910): “A maioria das pessoas vive física, intelectual ou moralmente num círculo muito restrito do seu potencial. Faz uso de uma parte muito pequena da sua possível consciência e dos recursos da sua alma em geral, assim como um homem... que se habitua a usar e a mover somente o seu dedo mínimo. Grandes emergências e crises nos mostram como os nossos recursos vitais são muito maiores do que supúnhamos”.
Se as dificuldades são maiores, superiores serão os nossos talentos para suplantá-las. Se desse modo não fosse, onde estaríamos hoje caso os que nos antecederam, pelos séculos, se acovardassem? A pior tragédia é desistir por causa das adversidades do mundo. É falhar, portanto, com aqueles que confiam em nós. Os que vieram antes — com o combustível da Fé — sublimaram dor em vitória.

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Câncer de Mama

Paiva Netto


O Dia Mundial Contra o Câncer e o Dia Nacional da Mamografia (respectivamente em 4 e 5 de fevereiro) chamam-nos a atenção sobre um mal que acomete cada vez mais pessoas.
A Agência Brasil, informa que “o câncer de mama é o segundo tipo mais frequente da doença no mundo (atrás do câncer de pulmão)”. Deverá ter quase 60 mil novos casos no país a cada ano, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Conforme ressalta o Inca, “o exame clínico da mama deve ser feito uma vez por ano pelas mulheres entre 40 e 49 anos. E a mamografia deve ser realizada a cada dois anos por mulheres entre 50 e 69 anos, ou segundo recomendação médica”. E mais: “Embora a hereditariedade seja responsável por apenas 10% do total de casos, mulheres com história familiar de câncer de mama, especialmente se uma ou mais parentes de primeiro grau (mãe ou irmãs) foram acometidas antes dos 50 anos, apresentam maior risco de desenvolver a doença. Esse grupo deve ser acompanhado por médico a partir dos 35 anos (...)”.
Quando detectado nos estágios iniciais, as chances de cura são de aproximadamente 95%. Contudo, aponta Ricardo Caponero, presidente do Conselho Técnico-Científico da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), “ainda falta conscientização das mulheres para a importância da realização periódica da mamografia. (...) Apenas 30% das mulheres fazem o exame”. Desde 2009, o exame tem cobertura gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), direito assegurado pela Lei no 11.664/2008. Em prol de sua saúde, as mulheres não podem abrir mão desse benefício.

Prevenção

Para melhor conhecimento de todos sobre o assunto, vale consultar o site do Inca (www.inca.gov.br). Vejam, por exemplo, algumas dicas de prevenção: “Evitar a obesidade, através de dieta equilibrada e prática regular de exercícios físicos, é uma recomendação básica para prevenir o câncer de mama, já que o excesso de peso aumenta o risco de desenvolver a doença. A ingestão de álcool, mesmo em quantidade moderada, é contraindicada, pois é fator de risco para esse tipo de tumor, assim como a exposição a radiações ionizantes [raios X, por exemplo] em idade inferior aos 35 anos”.
Não prescindamos igualmente de recorrer ao Amparo Celeste, que tem em Jesus, o Divino Médico, o abundante manancial da saúde almejada por todos.

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Efeito social da prece

Paiva Netto


Em entrevista à jornalista portuguesa Ana Serra, comentei que — a acepção de Fraternidade e Espiritualidade Ecumênica coloca-nos em sadio contato íntimo com nós mesmos e com o Criador do Universo e Suas criaturas, que constituem o mais perfeito altar onde devemos adorá-Lo, conforme destaquei, em 5 de novembro de 1983, no discurso de lançamento da pedra fundamental da sede da Legião da Boa Vontade, em São Paulo/SP, Brasil, durante o 8o Congresso dos Noivos e Casais Legionários. Na obra Ao Coração de Deus — Coletânea Ecumênica de Orações (1990), afirmei: Quando se ora, a Alma respira, fertilizando a existência humana. Fazer prece é essencial para desanuviar o horizonte do coração. E isso se encontra ao alcance de todos, porquanto possuímos a inata capacidade de meditar para escolher o caminho adequado e resolver transtornos que se iniciam no Espírito e, depois, se manifestam no corpo humano, muita vez em forma de doença, e no campo social.
Escrevi em Reflexões da Alma (2003) que quem, religioso ou ateu, souber usufruir do silêncio de Alma fará brotar, de dentro de si, todas as riquezas que o mundo não lhe pode oferecer, a começar pela paz de espírito, que Deus nos prometeu e que ninguém, além Dele, nos pode integralmente proporcionar, porque nem na sua totalidade ainda a conhecemos: “Minha Paz vos deixo, minha Paz vos dou. Eu não vos dou a paz do mundo. Eu vos dou a Paz de Deus, que o mundo não vos pode dar. Não se turbe o vosso coração nem se arreceie, porque Eu estarei convosco, todos os dias, até o fim dos tempos” (Evangelho de Jesus, segundo João, 14:27; e Mateus, 28:20). Não há um pensador sério, guardadas as exceções de praxe, que não necessite entrar, mesmo que vez por outra, no ambiente inspirador da reflexão, dando-lhe este ou aquele nome. E isso não favorece apenas a quietude psíquica, mas igualmente a serenidade somática.

 

Ideia cuja hora chegou

Em Somos todos Profetas (1999), digo: Estamos corpo, mas somos Espírito. A nação que compreender e administrar essa Verdade empolgará e governará o mundo no transcorrer do terceiro milênio. E, se alguém julgar tal raciocínio um delírio, apresento-lhe este aforismo do genial Victor Hugo (1802-1885): “Aqueles que hoje afirmam que uma coisa é impossível de ser concretizada tacitamente se colocam do lado dos que vão perder”.
Bem a propósito, o filósofo e sociólogo italiano Pietro Ubaldi (1886-1972), correspondente de Einstein (1879-1955) e grande admirador da Legião da Boa Vontade — que definiu como “um movimento novo na História da Humanidade. Colocará o Brasil na vanguarda do mundo” —, numa de suas conferências, lembrou-se deste outro apontamento do gigante de Besançon: “Há uma coisa mais poderosa que todos os exércitos: é uma ideia cujo tempo tenha chegado”.
Hoje, até a ciência já considera que a Espiritualidade Ecumênica pode reduzir o risco de doenças tidas como graves ou incuráveis. Em entrevista à Super Rede Boa Vontade de Comunicação (TV, rádio e internet), em 2009, acerca do tema, declarou o pesquisador, professor e psicobiólogo Ricardo Monezi, do Instituto de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): “Atualmente já temos diversos relatos na Ciência de que uma pessoa que exercita o bom pensar, a felicidade, todos os bons sentimentos, tem um potencial de defesa do corpo muito maior do que uma pessoa pessimista. (...) Uma pessoa otimista, quando vai ser vacinada, desenvolve anticorpos com uma rapidez muito maior do que a pessimista. E tem muito mais chances de atravessar um processo de adoecimento crônico em relação a uma pessoa pessimista”.
Eis aí: Espírito saudável é medicina preventiva para o corpo.

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Religião não rima com intolerância

Paiva Netto

Em 21 de janeiro, celebra-se o Dia Mundial da Religião. Na Folha de S.Paulo, década de 1980, arguido por um leitor, ponderei que não vejo Religião como ringues de luta livre, nos quais as muitas crenças se violentam no ataque ou na defesa de princípios, ou de Deus, que é Amor, portanto, Caridade, e que, por isso, não pode aprovar manifestações de ódio em Seu Santo Nome nem precisa da defesa raivosa de quem quer que seja. Alziro Zarur (1914-1979) dizia que “o maior criminoso do mundo é aquele que prega o ódio em nome de Deus”.
Compreendo Religião como Fraternidade, Generosidade, Solidariedade, Respeito à Vida Humana, Iluminação do Espírito, que todos somos. Entendo Religião como algo dinâmico, vivo, pragmático, altruisticamente realizador, que abre caminhos de luz nas Almas, e que, por essa razão, deve estar na vanguarda ética. Não a vejo como coisa abúlica, nefelibata, afastada do cotidiano de luta pela sobrevivência que sufoca as massas. Não a entenderia, se não atuasse também de modo sensato na transformação das realidades tristes que ainda atormentam os povos. Esses, cada vez mais, andam necessitados de Deus, que é antídoto para os males espirituais, morais e, por consequência, os sociais, incluídos o imobilismo, o sectarismo e a intolerância degeneradores, que obscurecem o Espírito das multidões. (...) E, de maneira alguma, devem-se excluir os ateus de qualquer providência que venha beneficiar o mundo.

Deus, Sabedoria e Entendimento
Religião, como sublimação do sentimento, é para tornar o ser humano melhor, integrando-o no seu Criador, pelo exercício da Fraternidade e da Justiça entre as Suas criaturas. O Pai Celestial é fonte inesgotável de Sabedoria e Entendimento, quando não compreendido como caricatura, estereótipo, ódio, vingança, porquanto “Deus é Amor” (Primeira Epístola de João, 4:8), sinônimo de Caridade.
Com apurado senso de oportunidade, preconiza o Profeta Muhammad (570-632) — “Que a Paz e as bênçãos de Deus estejam sobre ele” — no Corão Sagrado: “Cremos no que nos foi revelado e no que vos foi revelado. Nosso Deus e vosso Deus é o mesmo. A Ele nos submetemos”.
Vêm-me à lembrança estas palavras de Santa Teresa d’Ávila (1515-1582): “Procuremos sempre olhar as virtudes e as coisas boas que virmos nos outros e tapar-lhes os defeitos com os nossos grandes pecados”.

Religião na vanguarda
Tudo evolui. Ontem os homens diziam, por exemplo, que a Terra era chata, afirmava-se que o nosso planeta seria o centro do Universo. Por que então as religiões teriam de estacionar no tempo? Pelo contrário, Religião, quando sinônimo de Solidariedade e Misericórdia, tem de iluminar harmoniosamente os demais estratos do pensamento. Bem a propósito esta meditação do nada menos que cético Voltaire (1694-1778): “A tolerância é tão necessária na política como na religião. Só o orgulho é intolerante”. (...)

Para amainar a frieza de coração
Cabe ainda recordar esta máxima abrangente de Zarur: “Religião, Filosofia, Ciência e Política são quatro aspectos da mesma Verdade, que é Deus”.
Ora, querer conservar esses ramos do saber universal confinados em departamentos estanques, ou em preconceituosa conflagração, tem sido a origem de muitos males que nos assolam, em especial tratando-se de Religião, entendida no mais alto sentido. É principalmente de sua área que deve provir o espírito solidário, que, se às demais faltando, resulta na frieza de sentimentos que tem caracterizado as relações humanas, nestes últimos tempos.

Educação com Espiritualidade Ecumênica
A ausência de Solidariedade, de Fraternidade, de Generosidade tem suscitado grande defasagem entre progresso material e amadurecimento moral e espiritual. (...) Mas é sempre hora de aplacar ressentimentos. Contudo, não haverá Paz enquanto persistirem cruéis discriminações e desníveis sociais criminosos, provocados pela ganância, que, por meio de eficiente Educação com Espiritualidade Ecumênica, devemos combater. Se não optarmos por caminhos semelhantes, estaremos sentenciados à realidade denunciada pelo Gandhi (1869-1948): “A menos que as grandes nações abandonem seu desejo de exploração e o espírito de violência, do qual a guerra é a expressão natural e a bomba atômica a consequência inevitável, não há esperança de paz no mundo”.

A solução está em Deus
Sempre um bom termo pode surgir quando os indivíduos nele lealmente se empenham. E isso tem feito que a civilização, pelo menos o que vemos por aí como tal, milagrosamente sobreviva aos seus piores tempos de loucura. A sabedoria do Talmud dá o seu recado prático: “A Paz é para o mundo o que o fermento é para a massa”. Exato.
Há quem prefira referir-se ao espírito religioso, exaltando desvios patológicos ocorridos no transcorrer dos milênios. (De modo algum incluo nestes comentários os historiadores e analistas de bom senso.) Creio que essa conduta beligerante, que manchou de sangue a História, deva ser distanciada de nossos corações, por força de atos justos, porquanto maiores são as razões que nos devem confraternizar do que as que servem para acirrar rancores. O ódio é arma voltada contra o peito de quem odeia. Muito oportuna, pois, esta advertência do pastor Martin Luther King Jr. (1929-1968), que não negou a própria vida aos ideais que defendeu: “Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não a arte de conviver como irmãos”.
O milagre que Deus espera dos seres espirituais e humanos é que aprendam a amar-se, para que não ensandeçam de vez, como na pesquisa para o uso bélico da antimatéria.
O melhor altar para a veneração do Criador são Suas criaturas. Torna-se urgente que a Humanidade tenha humanidade.

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

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