Clima de deserto
Paiva Netto
O clima seco a cada ano preocupa
mais a população de várias regiões do Brasil, agravado, principalmente, pelas
secas e queimadas. A baixa umidade relativa do ar gera, além de problemas de
saúde, transtornos na vida de milhões de brasileiros.
Por isso, torna-se imprescindível
hidratar o organismo adequadamente com líquidos (água, água de coco e sucos),
manter a residência ou local de trabalho livres da poeira, evitar a prática
esportiva em horários em que o sol esteja mais forte e usar soro fisiológico em
narinas e olhos. Ainda é aconselhável colocar nos ambientes vasilhas com água,
toalhas molhadas ou umidificadores. Toda a atenção é pouca com crianças e
idosos, grupos de maior risco.
Síndrome do olho seco
Entre os principais prejuízos ao
corpo, o clima seco provoca dor de cabeça, sangramento das vias respiratórias,
maior incidência de asma e bronquite, além da síndrome do olho seco.
Numa entrevista ao programa Vida Plena, da Boa Vontade TV (Oi TV —
Canal 212 — e Net Brasil/Claro TV — Canais 196 e 696), o dr. Alessander Tsuneto, oftalmologista,
integrante da Associação dos Portadores de Olho Seco (Apos), esclareceu que
essa síndrome atinge de 10% a 15% dos indivíduos acima dos 50 anos. É a segunda
maior causa de atendimento nos consultórios, e muitos desconhecem essa
enfermidade. Alguns fatores, como cirurgia prévia, uso de lentes de contato sem
avaliação oftalmológica, diabetes, doenças reumáticas e queimaduras, podem
causar a secura ocular.
O médico também comentou que a baixa
umidade relativa do ar pode desencadear precocemente a doença. “Os níveis saudáveis, segundo a Organização
Mundial da Saúde, são em torno de 60%. Li uma reportagem na internet falando
que a umidade relativa do ar em São Paulo está abaixo dos 20%. Só como
curiosidade, no deserto do Saara é de 10% a 15%. Isso faz com que aumente a
evaporação das lágrimas e agrave o olho seco, ou quem não tem o problema corre
o risco de possuí-lo.”
Brasília já conhece bem esses baixos
índices.
Para o dr. Alessander, o exame
preventivo da síndrome do olho seco pode evitar graves doenças oculares,
inclusive a cegueira. “Tudo depende do
grau de severidade. Se o paciente tiver uma queixa leve, só um desconforto ou
uma irritação ocular, a gente pode tratá-lo somente com colírio ou pomada. Mas,
se apresentar alguma gravidade, pode ser até caso de cirurgia.”
Deficientes visuais
Durante o bate-papo, o telespectador
Lucas Fernando Gouveia, de Porto
Alegre/RS, perguntou ao dr. Alessander se pessoas com deficiência visual
padecem com o problema. De acordo com o oftalmologista, “mesmo uma pessoa que não enxerga, mas possui as estruturas oculares e
as glândulas que produzem a lágrima, pode ter alteração da qualidade da lágrima
e ter olho seco”.
Dicas e cuidados
Ao fim da entrevista, passou
importantes dicas para que se saiba se os olhos estão ressecados. “O paciente vai sentir algum grau de
desconforto, o olho vermelho, uma irritação ocular. Vai ser difícil piscar,
porque, não tendo uma lágrima boa e suficiente na pálpebra, ela não vai deslizar
sobre o olho. Então, ela dá uma travadinha.” Também alertou para o fato de
que quem fica exposto ao ambiente com ar-condicionado e os que exercem
atividades no computador têm maior probabilidade de adquirir a doença, já que o
local fica mais seco por causa da falta de umidade, e a fixação por demasia na
tela do computador desestimula a pessoa a piscar.
Outra questão de relevância é o
perigo da automedicação. “Só o
oftalmologista vai saber se o paciente tem o olho seco, que grau e qual colírio
deve usar”, evidenciou. Mais informações sobre o tema podem ser obtidas no site www.apos.org.br.
Cabe a todos nós, além de informar a
população dos riscos que corre com a baixa umidade atmosférica, iluminar as
mentes a respeito das graves consequências da seca e queimadas provocadas pela
ganância humana.
José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.
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