Povo liberto
Paiva Netto
Um
povo educado, ou melhor, reeducado na Fraternidade Ecumênica é uma grei
liberta. É essencial ao progresso das massas populares que elas cresçam cada
vez mais instruídas, educadas e espiritualizadas, pois, sem Amor e espírito solidário,
não poderá haver qualquer sociedade em paz, portanto, com o ingresso a uma vida
digna e mais auspiciosa, material e moralmente falando.
Malcolm X (1925-1965), islâmico, um dos grandes líderes negros
norte-americanos, ao suplantar as contrariedades de sua inicialmente violenta
e, por todo o percurso, sofrida existência, concluiu:
—
As únicas pessoas que realmente mudaram a
história foram as que mudaram o pensamento dos homens acerca de si mesmos.
Seu
exemplo aqui é corroborado por suas atitudes. Ele mesmo, ao viajar a Meca,
percebeu que era possível conviver com pessoas de diferentes origens,
opostamente ao que pensava. Ao voltar aos Estados Unidos, passou, para surpresa
de muitos, a dirigir-se não só aos afrodescendentes, mas, sim, as diversas etnias,
algo que o notável pastor norte-americano Martin
Luther King Jr. (1929-1968), líder carismático, já compreendera e
praticava.
Alziro Zarur (1914-1979), saudoso fundador da Legião da Boa Vontade,
proclamava que
— governar é ensinar cada um a
governar a si mesmo.
O
jornalista e poeta cearense Paula Nei (1858-1897),
muitas vezes injustamente lembrado apenas pela sua vida boêmia no Rio de
Janeiro da belle époque*1,
provou, contudo, entre outras qualidades, ser um ardoroso defensor do fim da
escravidão no Brasil. Escreveu o seguinte, em carta de 10 de janeiro de 1881,
endereçada aos fundadores da Sociedade Cearense Libertadora e publicada na
seção “Página do Povo” do jornal Libertador,
editado em Fortaleza/CE:
—
No seio da sociedade “Dezenove de Outubro”,
quando me dirigia àqueles colegas que comigo trabalhavam para a comemoração de
uma data gloriosa na vida da mocidade cearense estudiosa, entendia, e repetia
até, com demasiada insistência, que nenhum ato poderia mais e melhor significar
nossas homenagens ardentes e nossas admirações sinceras por um dia tão
faustoso, do que livrar das cadeias da ignóbil escravidão um indivíduo
qualquer, que, transformado em cidadão no dia seguinte, e mais tarde educado no
conhecimento dos seus direitos e dos seus deveres, pudesse auxiliar e honrar a
sociedade com as luzes do seu espírito.
Em
1980, assegurei que a verdadeira alforria do ser humano ou, avançando ainda
mais, do Espírito Imortal do indivíduo será aquela fortalecida pela cultura do
respeito mútuo, cuja riqueza consiste na multiplicidade de ideias em favor da
harmonia entre todos. E reitero: não há outro caminho que não seja o da
Instrução e da Educação, iluminadas pelo sentido da Espiritualidade Ecumênica,
que é Amor e Justiça, Ciência e Amor, para todas as etnias. Não nos esqueçamos
ainda de que a boa saúde, física e da
mente, é fundamental à conquista, por exemplo, de um bom emprego. Libertar-se significa ter, acima de tudo,
discernimento espiritual.
Pedro Apóstolo nos enche o Espírito da Sabedoria Divina ao nos conclamar,
em sua Segunda Carta, 1:2 a 8:
Crescendo
no Conhecimento de Deus
2 Graça e paz
lhes sejam multiplicadas, pelo pleno Conhecimento de Deus e de Jesus, nosso
Senhor.
3 Seu Divino
Poder nos deu tudo de que necessitamos para a vida e para a piedade, por meio
do pleno Conhecimento Daquele que nos chamou para a Sua própria glória e
virtude.
4 Dessa
maneira, Ele nos deu as Suas
grandiosas e preciosas promessas, para
que por elas vocês se tornassem
coparticipantes da Natureza Divina e fugissem da corrupção que há no mundo,
causada pela cobiça.
5 Por isso
mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o
conhecimento;
6 ao
conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à
perseverança a piedade;
7 à piedade a
fraternidade; e à fraternidade o amor.
8 Porque, se essas qualidades existirem e estiverem
crescendo em sua vida, elas impedirão
que vocês sejam inoperantes e improdutivos no pleno conhecimento de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
Que
assim seja!
Observaram
bem, ó Cidadãos do Espírito?!
Não
queiramos ser nós “inoperantes e
improdutivos no pleno conhecimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo”. Por isso, eduquemos em nós essas qualidades da Alma espiritualmente
esclarecida.
José de Paiva
Netto, jornalista, radialista e escritor.
________________________
*1 Belle époque — Ao citar o
poeta Francisco de Paula Nei, seu nome completo, o autor se refere ao período
de cultura cosmopolita na Europa, entre 1871 e 1914, que percorreu a vida
carioca, influenciando-a.
Serviço – Jesus e a Cidadania do Espírito (Paiva
Netto), 400 páginas. À venda nas principais livrarias ou pelo site www.amazon.com.br.
Nenhum comentário:
Postar um comentário