As mães e os filhos das mães
Paiva Netto
No opúsculo Mãezinha, deixe-me viver!, publicado em
1989, anotei que atravessamos época de transformações profundas. Daquelas que
pesado tributo pagam ao exagero. É o vale-tudo. Nem as mães escapam. Chegou a
ser de “bom gosto”, para alguns, falar-se mal delas... Certo pessoal anda mesmo
é querendo ser filho da máquina, a boa senhora do computador... Eis a
civilização do absurdo, que tanta coisa deseja sem saber o que verdadeiramente
quer. “Vade retro!” Freud explica...
Explica?! Porém tudo se altera e passa...
Lembro-me de que quando
criança existiam bondes. E como era romântico trafegar neles nas "horas
mortas"... Durante o "rush", não! Havia uns pequenos cartazes
que diziam assim: “Tudo na vida é
passageiro, menos o condutor (o cobrador) e o motorneiro” (digamos, o motorista do praticamente extinto
veículo elétrico, que as novas gerações não conheceram). Agora a gente vê que
até aquelas duas figuras, hoje folclóricas, também eram passageiras.
Enganou-se, pois, o poeta marqueteiro...
Mas voltando ao assunto:
sacudida a Árvore Sociedade, caídos os galhos secos, as folhas murchas, os
frutos podres, que impediam seu correto desenvolvimento, a planta sempre
rejuvenesce, torna a florescer. É a vitória da vida, o sucesso do Amor. Tudo
passa, realmente passa, menos ele. Por quê?! Ora, por quê! Deus é Amor, e “nada existe fora Dele”, afirmava o
libertário Alziro Zarur (1914-1979).
Quem declarar que não quer ser amado (ou amada) está doente ou mentindo, o que
resulta no mesmo...
Pensam que mãe não tem
rima? Será?! Então secou-se-lhes a musa, ou saiu em férias... Mas não
semelhantemente à famosa experiência de Guerra Junqueiro (1850-1923)...
Mãe faz rima perfeita com
Amor.
A musa em férias
Por falar no velho Guerra,
contam que o episódio assim se deu: o respeitado poeta português foi ao médico.
Não sabia o que lhe cansava os ossos. O clínico, depois de examiná-lo com
paciência, prescreveu ao cliente: “–
Professor, o senhor não tem nada físico que um bom descanso não corrija. Viaje.
Não faça nada, nem escreva, e tudo terminará bem. Pode confiar”. O vate
prometeu que o faria. Contudo, o que acabou ocorrendo foi o seguinte: quando
voltou do “descanso”, trazia um dos seus mais belos feitos para um novo
livro: A musa em férias.
Homenagem
Separei um lindo poema
de Casimiro de Abreu (1839-1860)
para homenagear as mães do Brasil e do mundo, da Terra e do Céu da Terra, que
tem justamente esta invocação: “Minha mãe”. Recordo-me de que Zarur, o fundador
da LBV, o interpretava de forma magistral:
Minha mãe
“Da pátria formosa, distante e saudoso,/ Chorando e
gemendo meus cantos de dor,/ Eu guardo no peito a imagem querida/ Do mais
verdadeiro, do mais santo amor!/ – Minha mãe!
“Nas horas caladas das noites de estio,/ Sentado sozinho,
co’a face na mão,/ Eu choro e soluço por quem me chamava:/ – ‘Ó filho querido
do meu coração!’/ – Minha mãe!
“No berço pendente dos ramos floridos,/ Em que eu
pequenino feliz dormitava,/ Quem é que esse berço com todo o cuidado,/ Cantando
cantigas, alegre embalava?/ – Minha mãe!
“De noite, alta noite, quando eu já dormia,/ Sonhando
esses sonhos dos anjos dos céus,/ Quem é que meus lábios dormentes roçava,/
Qual anjo da guarda, qual sopro de Deus?/ – Minha mãe!
“Feliz o bom filho que pode contente,/ Na casa paterna,
de noite e de dia,/ Sentir as carícias do anjo de amores,/ Da estrela brilhante
que a vida nos guia./ – Uma mãe!
“Por isso eu agora, na terra do exílio,/ Sentado,
sozinho, co’a face na mão,/ Suspiro e soluço por quem me chamava:/ – ‘Ó filho
querido do meu coração!’/ – Minha mãe!”
José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.
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