segunda-feira, 14 de setembro de 2020

 

Livre-arbítrio gera determinismo

Paiva Netto

 

Uns acham que temos apenas livre-arbítrio e que podemos fazer o que quisermos, sem que haja consequência. No entanto, é só observar o mundo para perceber como estão errados. Essa esbórnia que ameaça o planeta é justamente derivada disto: “Não, eu tenho livre-arbítrio! Ora, eu faço o que quiser. Eu, eu, eu!... Ademais, eu não preciso de ninguém! Eu não devo nada a ninguém! Eu valho por mim mesmo (ou por mim mesma). Quero é saber de mim. Eu, eu, eu!... Os outros que se lixem!”.

Como se o que acontece com os outros não o afetasse...

Meu Irmão, será que você não deve mesmo nada a ninguém?! E você, minha Irmã?! Ah, é?! Então, vejamos: a roupa que Você veste não foi feita por você. Rarissimamente, as pessoas confeccionam suas próprias vestimentas. Só se forem costureiras ou alfaiates. Mesmo assim, e o tecido? E os botões? Não foram feitos por eles. Vieram de alguma fábrica, de uma micro, média ou grande empresa. E a pasta de dente? E a escova? E mais: o feijão? E o arroz? Foi você quem os plantou, meu Irmão? Foi você, minha Irmã? É preciso urgentemente derrubar a sociedade do homem solitário, para fazer surgir a Sociedade do Ser Humano Solidário.

Recordando a máxima de Alziro Zarur (1914-1979) que concilia determinismo e livre-arbítrio, diz o ilustre poeta e pregador: “A Lei Divina, julgando o passado de homens, povos e nações, determina-lhes o futuro”.

Juntou o livre-arbítrio da criatura humana a ser medido por Deus (a Lei Divina, julgando o passado de homens, povos e nações) ao determinismo resultante dos nossos atos bons ou maus (determina-lhes o futuro). Daí surge o determinismo (bem diferente do fatalismo), mas não como algo aleatório, como uma bomba voadora que não sabemos onde cairá, uma decisão de um deus maluco que de repente resolve dividir benesses e torturas entre seres terrestres ou celestes, conforme o seu bestunto alienado. Não! Somos nós quem criamos o destino, de acordo com o emprego que fizermos do nosso livre-arbítrio. Para os que o usarem inadequadamente, o alertamento dos versículos 1 e 2 do Salmo 94:

 

“1 Ó Senhor, Deus das vinganças, ó Deus das vinganças, resplandece!

“2 Exalta-te, ó Juiz da Terra; dá o pagamento aos soberbos!”.

 

(Aqui, uma explicação se faz necessária: Estamos diante da linguagem necessariamente arrebatada dos Profetas, que precisam fazer-se escutar pelos ouvidos moucos de povos de dura cerviz. Deus jamais se vinga, porquanto é Amor. O que ocorre é que cada um receberá de acordo com suas obras, públicas ou ocultas, no decorrer das vidas sucessivas.)

Mas prosseguindo, para os que dele fizerem, com Boa Vontade, a glória para os seus destinos, aqui e na Pátria Espiritual, o conforto do Salmo 91:1 a 16:

 

Sob a sombra do Altíssimo

“1 O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente

“2 diz ao Senhor: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio.

“3 Pois Ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa.

“4 Cobrir-te-á com as Suas penas, e, sob Suas asas, estarás seguro; a Sua verdade é pavês e escudo.

“5 Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia,

“6 nem da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao meio-dia.

“7 Caiam mil ao teu lado e dez mil à tua direita; tu não serás atingido.

“8 Somente com os teus olhos contemplarás e verás o castigo dos ímpios.

“9 Pois disseste: O Senhor é o meu refúgio. Fizeste do Altíssimo a tua morada.

“10 Nenhum mal te sucederá, praga nenhuma chegará à tua tenda.

“11 Porque aos Seus Anjos darás ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos.

“12 Eles te sustentarão nas Suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.

“13 Pisarás o leão e a áspide, calcarás aos pés o leãozinho e a serpente.

“14 Porque a mim se apegou com amor, Eu o livrarei; pô-lo-ei a salvo, porque conhece o meu nome.

“15 Ele me invocará, e Eu lhe responderei; na sua angústia Eu estarei com ele, livrá-lo-ei e o glorificarei.

“16 Saciá-lo-ei com longevidade e lhe mostrarei a minha salvação”.

 

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com 

 

domingo, 13 de setembro de 2020

 

O suicídio golpeia a Alma

Paiva Netto

 

No encarte do CD da radionovela Memórias de um suicida, afirmo que o suicídio é um ato que infalivelmente golpeia a Alma de quem o pratica. Ao chegar ao Outro Lado, ela vai encontrar-se mais viva do que nunca, a padecer opressivas aflições por ter fugido de sua responsabilidade terrena. Sofrerá continuamente os graves efeitos do suicídio — vendo aquilo que, um dia, foi o seu corpo apodrecer no túmulo —, até que se complete o tempo da própria vida material, que cortou criminosamente. Parece coisa de filme de terror, mas não é. Trata-se da mais pura verdade. Por isso, “a morte fugirá deles” (Apocalipse, 9:6). Isto é, pensando morrer, os que se suicidam permanecerão vivos, mais vivos do que nunca, somando às dores antigas (se é que as tinham tão cruéis como as imaginavam) cruciantes dores novas. É bom refletir sobre o assunto. Depois, não adiantará queixar-se. Nem haverá a quem se lamentar!

Convém assinalar que sempre alguém fica ferido e/ou abandonado com a deserção da pessoa amada ou amiga, em quem confiava, seja aqui ou no Mundo da Verdade. Igualmente, é de muito bom senso não olvidar que no Tribunal Celeste vigora o Amor Fraterno, mas não existe impunidade.

 

Pegar do tormento e alavancar a coragem

Em Jesus, a Dor e a origem de Sua Autoridade — O Poder do Cristo em nós (2014), destaquei que, ao escrever esse livro, meu intuito foi o de mostrar aos prezados leitores que a Dor nos fortalece e nos instrui a vencer todos os obstáculos, por piores que sejam. Por isso, suicidar-se é um tremendo engano. É necessário saber conviver com a Dor e, com obstinação, sobrepujá-la. Para tanto, faz-se urgente conhecer e viver a Excelsa Lei, que rege os mundos, do micro ao macrocosmo, expressa no Mandamento Novo do Jesus Ecumênico: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos. (...) Não há maior Amor do que doar a própria vida pelos seus amigos” (Evangelho, segundo João, 13:34 e 35; e 15:13). Essa é a forma de nos capacitarmos para pegar até do tormento e, com ele, alavancar a coragem.

Minha Irmã, meu Irmão, respeitosamente dedico a todos vocês este pensamento:

A vida continua sempre, e lutar por ela vale a pena. Ainda que se apresente a escuridão da noite, o Sol nascerá no horizonte, derrotando as trevas e trazendo a claridade aos corações. Por isso, proclamamos: o grande segredo da vida é, amando a vida, saber preparar-se para a morte, ou Vida Eterna. Ressalte-se: o falecimento deve ocorrer somente na hora certa determinada por Deus.

Se passarmos os olhos ao nosso redor, veremos que existem seres humanos e até mesmo animais em situação mais dolorosa que a nossa, precisando que lhes seja estendida mão amiga. Não devemos perder a oportunidade de ajudar. Àquele que auxilia jamais faltará o amparo bendito que lhe possa curar as feridas.

Viver é melhor!

 

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com 

sábado, 12 de setembro de 2020

 

Persistir na divina missão além do fim

Paiva Netto

 

“Vós sois a luz do mundo” (Evangelho, consoante Mateus, 5:14), disse o Cristo àqueles que se integraram no que Ele veio trazer, “da parte do Pai”, à Terra.

“Mas Jesus não foi crucificado?”, alguém pode argumentar. Não obstante, respondemos nós, o Senhor Excelso deixou o Seu recado, a Sua mensagem, e, acima de tudo, venceu a morte. Assim, cumpriu a própria determinação expressa em “A Missão dos Setenta Discípulos de Jesus”, constante de Sua Boa Nova, segundo Lucas, 10:10 e 11: “Quando, porém, entrardes numa cidade e não vos receberem, saí pelas ruas e clamai: Até o pó da vossa cidade, que se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós outros. Não obstante, sabei que está próximo o Reino de Deus”.

Entenderam? Mesmo não tendo sido aceita a Sua palavra pela “cidade”, de forma alguma o Divino Educador ficou sem proclamar o que viera fazer por Vontade do Pai Celestial. Ele persistiu até o fim (e além do fim): “Aquele que perseverar até o fim será salvo” (Evangelho de Jesus, consoante Mateus, 24:13).

O Bom Pastor, pois, demonstrou o exemplo a ser seguido pelos Seus discípulos, custe o que custar. Não cessou de difundir que o Reino de Deus está dentro de nós: “Interrogado sobre quando viria o Reino de Deus, Jesus revelou: Não vem o Reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o Reino de Deus está dentro de vós” (Evangelho de Jesus, segundo Lucas, 17:20 e 21).

E quando usamos a expressão além do fim, é porque bradamos incessantemente: Os mortos não morrem! Escreveu Paulo Apóstolo, na Primeira Epístola aos Coríntios, 15:26: “O último inimigo a ser vencido é a morte”.

E Jesus a venceu, para que nós, em seguida, pudéssemos fazer o mesmo. Alziro Zarur (1914-1979) dizia: “Não há morte em nenhum ponto do Universo”.

Mil e duzentos anos depois do Apóstolo dos Gentios, São Francisco de Assis (aprox. 1181-1226) desvendou o mistério em sua prece notável: “Porque é morrendo que nascemos para a Vida Eterna”.

 

As andorinhas sempre voltam

Entretanto, que ninguém se suicide, pensando que, com esse ato funesto, se livrará da dor que o aflige, ou a aflige, pois acordará no Outro Mundo mais vivo, ou mais viva, do que nunca e com todos os seus problemas amplificados. Fugir do sofrimento é cair repetidas vezes nas mãos dele; portanto, sob o cruel flagelo do “lobo invisível”, o espírito obsessor, que tem de ser vencido, mas não maltratado, e, assim, redimido pelas ovelhas do Cristo. É bom que nos recordemos constantemente do dito popular imortalizado pelo querido poeta, intérprete e compositor paulista, de Valinhos, Adoniran Barbosa (1910-1982), em sua Saudosa Maloca, gravada por ele, em 1951, e, em outro vinil, pela cantora paulistana Marlene (1922-2014): “Deus dá o frio conforme o cobertor”.

E dá mesmo. É só a gente ser perspicaz e saber, com inteligência, usar o cobertor no “inverno”, até que o “verão” volte. Costumo lembrar-lhes um acertado aforismo de Éliphas Lévi (1810-1875), que conforta os lutadores pelo Bem, os quais firmemente prosseguem, a despeito das piores condições a serem superadas, porque o Sol há de brilhar: “Felizes daqueles que não desanimam nunca e que, nos invernos da vida, esperam as andorinhas em sua volta”.

 

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com 

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ServiçoA Missão dos Setenta e o “lobo invisível” (Paiva Netto), 384 páginas. À venda nas principais livrarias ou pelo www.amazon.com.br.