segunda-feira, 21 de janeiro de 2019


Religião não rima com intolerância
Paiva Netto

Em 21 de janeiro celebra-se o Dia Mundial da Religião. Em artigo publicado na Folha de S.Paulo na década de 1980, arguido por um leitor se não sectarizaria a minha palavra o fato de, em meus escritos, dar muito valor à Religião, expandi o que anteriormente havia registrado no primeiro volume de O Brasil e o Apocalipse (1984), que já esgotou várias edições, escrevi:
Não vejo Religião como ringues de luta livre, nos quais as muitas crenças se violentam no ataque ou na defesa de princípios, ou de Deus, que é Amor, portanto Caridade, e que, por isso, não pode aprovar manifestações de ódio em Seu Santo Nome nem precisa da defesa raivosa de quem quer que seja. Alziro Zarur (1914-1979) dizia que “o maior criminoso do mundo é aquele que prega o ódio em nome de Deus”.
Compreendo Religião como Fraternidade, Solidariedade, Entendimento, Compaixão, Generosidade, Respeito à Vida Humana, Salvação das Almas, Iluminação do Espírito, que todos somos. Tudo isso no sentido mais elevado. Creio na Religião como algo dinâmico, vivo, pragmático, altruisticamente realizador, que abre caminhos de luz nas Almas e que, por essa razão, deve estar na vanguarda ética. Não a vejo como coisa abúlica, nefelibata, afastada do cotidiano de luta pela sobrevivência que sufoca as massas. Não a entenderia se não atuasse também, de modo sensato, na transformação das realidades tristes que ainda atormentam os povos. Estes, cada vez mais, andam necessitados de Deus, que é antídoto para os males espirituais, morais e, por consequência, os sociais, incluídos o imobilismo, o sectarismo e a intolerância degeneradores, que obscurecem o Espírito das multidões. (...) E de maneira alguma devem-se excluir os ateus de qualquer providência que venha beneficiar o mundo.

Deus, Sabedoria e Misericórdia
Religião, como sublimação do sentimento, é para tornar o ser humano melhor, integrando-o no seu Criador, pelo exercício da Fraternidade e da Justiça entre as Suas criaturas. O Pai Celestial é fonte inesgotável de Sabedoria e Misericórdia quando não concebido como caricatura, estereótipo, ódio, vingança, porquanto “Deus é Amor” (Primeira Epístola de João, 4:8), sinônimo de Caridade.
Com apurado senso de oportunidade, preconiza o Profeta Muhammad (570-632) — “Que a Paz e as bênçãos de Deus estejam sobre ele” — no Corão Sagrado, Surata Al ´Ankabut (A Aranha), 29:46: “(...) Cremos no que nos foi revelado e no que vos foi revelado. Nosso Deus e vosso Deus é o mesmo. A Ele nos submetemos”.
Vêm-me à lembrança estas palavras de Santa Teresa d’Ávila (1515-1582): “Procuremos, então, sempre olhar as virtudes e as coisas boas que virmos nos outros e tapar-lhes os defeitos com os nossos grandes pecados”.

Religião na vanguarda
Tudo evolui. Ontem os homens diziam, por exemplo, que a Terra era chata. Afirmava-se que o nosso planeta seria o centro do Universo. Por que então as religiões teriam de estacionar no tempo? Pelo contrário. Religião, quando sinônimo de Solidariedade e Misericórdia, tem de iluminar harmoniosamente a vanguarda de tudo: da Filosofia, da Ciência, da Política, da Arte, do Esporte, da Economia etc. É também por intermédio dela — a Religião — que Deus, que é Amor, nos manda os mais potentes raios da Sua Generosidade. (...)
Bem a propósito esta meditação do nada menos que cético Voltaire (1694-1778): “A tolerância é tão necessária na política como na religião. Só o orgulho é intolerante”. (...)

Para amainar a frieza de coração
Cabe reiterar esta máxima abrangente de Zarur: “Religião, Filosofia, Ciência e Política são quatro aspectos da mesma Verdade, que é Deus”.
Ora, querer conservar os ramos do saber universal confinados em departamentos estanques, em preconceituosa conflagração, tem sido a origem de muitos males que nos assolam, em especial tratando-se de Religião, entendida no mais alto sentido. É principalmente de sua área que deve provir o espírito solidário, que, faltando aos diferentes ramos do saber e à própria Religião, resulta na frieza de sentimentos que tem caracterizado as relações humanas, nestes últimos tempos.
(...) O milagre que Deus espera dos seres espirituais e humanos é que aprendam a amar-se, para que não ensandeçam de vez, como na pesquisa para o uso bélico da antimatéria.
O melhor altar para a veneração do Criador são Suas criaturas. Torna-se urgente que a Humanidade tenha humanidade.

José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.

domingo, 20 de janeiro de 2019


Transcendente valor da família

Paiva Netto

Em nossos pensamentos diários, observemos sempre se estamos dando o justo valor à família. Um país melhor, mais feliz, e, por consequência, uma humanidade equilibrada dependem dos núcleos familiares bem constituídos, devidamente prestigiados por seus integrantes e valorizados pela comunidade. A importância da família transcende a compreensão mais comum. Nela, a vida humana encontra o seu refúgio. É na família que devem florescer os sentimentos mais ternos e sublimes do ser humano.
Ensinamento do Espírito Áulus, mentor citado por André Luiz (Espírito), em Nos Domínios da Mediunidade, na psicografia de Chico Xavier (1910-2002): “A família física pode ser comparada a uma reunião de serviço espiritual no espaço e no tempo, cinzelando corações para a imortalidade”.

José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.

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Serviço - Tesouros da Alma (Paiva Netto), 304 páginas. À venda nas principais livrarias.

sábado, 19 de janeiro de 2019


Sede de simplicidade

Paiva Netto

Ernest Renan (1823-1892), filósofo, historiador e livre-pensador francês, citado por Humberto de Campos (1886-1934) em “Carta a Gastão Penalva” (1887-1944), seu colega da Academia Brasileira de Letras (ABL), preconizava que “o cérebro queimado pelo raciocínio tem sede de simplicidade, como o deserto tem de água pura”.
Isso igualmente ocorre em relação à Verdade Divina, da qual o Espírito humano não pode abrir mão, tanto que, quando ele estiver exausto de inutilmente lutar contra a própria libertação — muitas vezes sem perceber que assim está agindo —, ela, a Verdade Divina, virá iluminá-lo com a sua luz delicada e serena.
Observemos a lição que nos deixou o Abolicionista Celeste: “Conhecereis a Verdade [de Deus], e a Verdade [de Deus] vos libertará” (Evangelho, segundo João, 8:32).
Vale recordar que Jesus esteve visivelmente entre nós por apenas 33 anos. Contudo, consoante o prosador grego Luciano de Samósata (125-192) anotou: “A vida humana vale mais por sua intensidade de aprendizado do que por sua extensão”.
Desde que ela cesse unicamente na hora marcada por Deus, pois, conforme ensinava o saudoso fundador da Legião da Boa Vontade, Alziro Zarur (1914-1979): “O suicídio não resolve as angústias de ninguém.

José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.

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ServiçoTesouros da Alma (Paiva Netto), 304 páginas. À venda nas principais livrarias.