sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

 

Uma visão de Jesus

Paiva Netto

 

Quando o Divino Mestre derrotou a morte, ou seja, a única fatalidade neste mundo, porque tudo o mais pode ser materialmente superado, os Seus Apóstolos e Discípulos foram revestidos de um poder e de uma coragem que os levou a espalhar os ensinamentos de Jesus por toda a parte. Não falo somente daquela geração contemporânea do Cristo, mas também das que se sucederam. Se estamos aqui hoje, uma vez mais, defendendo o que Ele pregou, foi graças ao esforço de multidões que, pelos milênios, não deixaram no esquecimento as Suas memoráveis lições de humanidade e de Espiritualidade Ecumênica.

Vem-me igualmente à lembrança texto que publiquei, em 1986, na centenária Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro/RJ, e desenvolvi em artigos veiculados por jornais, revistas e pela internet. Nele, me pergunto:

 

Mensagem às mentes libertárias

Quantos já alcançaram que um pensador libertário como Jesus não pode ficar aprisionado entre quatro paredes de um templo, por mais respeitável que seja, ou ter Sua mensagem reduzida por analistas que, por mais veneráveis que se apresentem, por vezes, confundem “germano com gênero humano?”

O Celeste Libertador não está aprisionado ao Cristianismo humano. Ele trouxe Leis Espirituais, Morais, Ecumênicas (isto é, Universais) elevadíssimas, Divinas. E não estou a afirmar qualquer aberração. Ele próprio declarou, em Sua Boa Nova, conforme os relatos de João, 16:12 a 15, que mandaria o Espírito da Verdade, ou Paráclito, para revelar novas coisas, que são Dele, Jesus, mas que não as pôde manifestar naquele momento: “Tenho ainda muito o que vos dizer, mas vós não o podeis entender agora; quando vier, porém, o Espírito da Verdade, ele vos guiará a toda a Verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido de mim e vos anunciará todas as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu para trazê-lo a todos vós. Tudo o que o Pai tem é meu; por isso, vos disse que há de receber do que é meu, e anunciará a vós”.

Então, o Seu Saber, a Sua Bondade, a Sua Solidariedade, a Sua Fraternidade, a Sua Generosidade, a Sua Compaixão se derramam sobre todas as criaturas. Os seres humanos é que separam. Deus une.

Os religiosos iluminados pelo espírito de concórdia e os cultores do pensamento criador sem algemas de qualquer espécie; enfim, os homens de mente aberta, crentes e ateus, pressentem isso sem dificuldade. Desejam ver a excelente influência altruística do Cristo clarear todos os setores da sociedade. Não podem abrir mão de tão extraordinária e sublime competência. Se não, para que Cristianismo? Ora, o Divino Mestre é infinitamente maior que todas as grandes personalidades que passaram pelo mundo, transformando-o.

 

O exemplo do Cristo deve inspirar todos os campos da Vida

Jesus foi Cientista, quando, por ordem do Senhor do Universo, criou este planeta que habitamos; Economista, quando multiplicou pães e peixes e não deixou perder o que sobejou; Filósofo, quando desenvolveu Sua Divina Doutrina; Psicólogo, quando a adequou ao conhecimento das massas populares; Pedagogo, quando a ensinou por parábolas e pelo exemplo; Religioso, quando, convivendo com o povo e pregando aos sacerdotes no templo desde os 12 anos de idade, lhes transmitiu normas de conduzir suas existências no mundo, de maneira a merecerem a Vida Eterna; incentivador do progresso do ser humano pelo esforço próprio, quando advertiu que “a cada um será dado de acordo com as suas próprias obras” (Evangelho de Jesus, segundo Mateus, 16:27 e Apocalipse do Cristo, 22:12): o Cristianismo não é a escola da ociosidade; Legislador e Político, quando expôs, por intermédio de João Evangelista (Primeira Epístola, 4:16), que “Deus é Amor” e que, por isso, todos precisam cumprir a Sua Lei de Solidariedade Espiritual, Humana e Social, amando-se uns aos outros tanto quanto Ele mesmo nos amou: “Não há maior Amor do que doar a própria vida pelos seus amigos” (Evangelho de Jesus, segundo João, 15:13).

E Ele a doou até pelos Seus eventuais adversários! Com isso, convocou o mundo à mais grandiosa das reformas, que deve preceder a todas as outras, a do ser humano, pelo conhecimento dos seus valores espirituais: “Buscai primeiramente o Reino de Deus e Sua Justiça, e todas as coisas materiais vos serão acrescentadas” (Evangelho do Cristo, segundo Mateus, 6:33), postulado de Jesus para a formação da Economia da Solidariedade Espiritual e Humana, componente básico da Estratégia da Sobrevivência, que propomos para que haja uma Sociedade Solidária Altruística Ecumênica.

Aí está. O Ecumenismo é Educação aberta à Paz.

Tudo isso só pode parecer utopia num orbe saturado de ódios e contendas de todos os matizes. Entretanto, a Humanidade, sabendo ou não, anseia por um clima espiritual e social menos poluído. Tendo alcançado o entendimento superior a respeito do que fazem neste burgo planetário e cientes de que sua vida prosseguirá após a morte, a mulher e o homem, mais dia, menos dia, saberão valer-se de todas as riquezas da Terra, sem delas se tornarem escravos. Atualíssima lição moral de Paulo Apóstolo, excelente para os homens públicos do Brasil e do mundo: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas não me deixarei dominar por nenhuma delas” (Primeira Epístola aos Coríntios, 6:12).

Ora, tenho sempre afirmado que Deus nos deixa moralmente livres, mas não imoralmente livres, pois todos os atos humanos têm infalível consequência, pública ou no interior da criatura que os perpetra: “Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo Jesus? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não” (Primeira Epístola aos Coríntios, 6:15).

Diante dessa abrangência universalista, é nosso empenho, na Religião do Terceiro Milênio, apresentar Jesus Dessectarizado, sem arestas, para que Ele possa surgir em toda a Sua Divina Grandeza, com Poder e Autoridade, a qualquer consciência do mundo.

 

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

 

Uma história de Amor

Paiva Netto

 

Vou contar-lhes esta história, porque quem disser que não quer ser amado está doente ou mentindo. Ela começa na Bahia, cruza o sul do país e tem belo desfecho no Rio de Janeiro.

Em 27 de janeiro, meus pais, Bruno (1911-2000) e Idalina Cecília (1913-1994), se estivessem entre nós, completariam mais um ano de feliz casamento.

Peço licença a vocês para narrar o autêntico conto de amor que ambos viveram, modelo de perseverança e superação para os que se gostam.

Conheceram-se em Camaçari. Hoje, um dos mais importantes polos petrolíferos do Brasil. Ele tinha 9 anos de idade. Ela estava com 7. Quando cresceram, a família foi contra o namoro por serem primos. Não que fossem pessoas ruins, temiam o grau de parentesco. Então, colocaram meu pai num seminário e mandaram minha mãe, ainda jovem, para o Rio de Janeiro. Passam-se muitos anos, quando meu velho, já sem batina, também vai para a Cidade Maravilhosa. Entretanto, não a encontra nessa primeira tentativa. Desiludido, viaja por várias regiões do país, incluído o sul. Longe de seu verdadeiro amor, volta ao Rio decidido a localizá-la.

Certo dia, na capital carioca, o querido e consagrado compositor e cantor Dorival Caymmi (1914-2008), conhecido deles desde a infância, topa com seu Bruno e lhe diz, com seu sotaque bem baiano: “Ô Ioiô, você sabe quem encontrei? Idalina!! Ela veio, com uma prima, aqui na rádio. Está morando na rua Gregório Neves, no Engenho Novo”. Meu pai não titubeou e dirigiu-se ao endereço indicado por Caymmi. Chegando lá, foi recebido pela minha tia-avó, Amália. Ao vê-lo, ela se vira para dentro de casa e chama em alta voz: “Idalina, o seu primo da Bahia está aqui! Ele veio casar com você!” E um dado curioso é que, um mês antes desse reencontro, minha mãe terminara seu noivado forçado com um médico. Naquele tempo, o poder patriarcal era uma parada!

Idalina e Bruno uniram-se em 1940, vinte anos depois que se viram pela primeira vez. Adivinhem quem foi o padrinho de casamento? O saudoso Dorival Caymmi, privilegiado marido de Dona Stella Maris (1922-2008) e ditoso pai de Nana, Dori e Danilo, e que sempre encantou as plateias.

Observando o grande exemplo de meus amados pais, relembro, com Lícia (1942-2010), minha irmã, algumas palavras que publiquei em Reflexões e Pensamentos — Dialética da Boa Vontade, lançado em 1987: Assim como o sangue, circulando pelo corpo, oxigeniza e alimenta as células humanas, o Amor, percorrendo os mais recônditos pontos de nossa Alma, fertiliza-a e a torna plena de vida. (...) Ao término de tudo, ele — que se expressa das mais surpreendentes formas no sublime labor de conduzir os homens à sobrevivência — vencerá! Prosseguimos acreditando na vitória final do Espírito Eterno do ser humano, “a Obra Máxima do Criador”, na definição de Alziro Zarur (1914-1979).

 

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

 

Sentido da Solidariedade

Paiva Netto

 

A Solidariedade anima o ser humano. Alguns pensam que seja uma coisa abstrata. Não é. Você de repente está muito bem de vida, daqui a pouco não está mais. Um vizinho lhe arranja alimento para seus filhos. Veja a Solidariedade ativa nesse ato! Você vive distante, de súbito, sente no coração o desejo de se formar, digamos, em medicina, não tem o apoio de ninguém. Põe o pé no caminho, chega ao destino procurado e encontra pessoa amiga que o incentiva. E, depois de muita luta, alcança a vocação ambicionada. Apesar de haver quem diga: “Não, eu me fiz sozinho!” Duvido! Esses deveriam olhar para si próprios e ver se estão nus, porque as roupas que vestem passaram por muitas mãos. O tecido, antes, foi um vegetal qualquer perdido no campo; o botão compôs o corpo de um pobre animal. Seu cabelo precisa ser cortado. Deve-se tudo isso ao barbeiro, à costureira, ao alfaiate, ao operário, ao empresário... Devemos sempre algo a alguém. Observem o quanto a Solidariedade permeia a vida humana.

Mas ainda existem aqueles para quem esse fator não seja ação de política social.

Por isso é que, se pararmos um pouco e meditarmos, voltados para a História, poderemos concluir a razão pela qual, talvez, ideologias brilhantes, na hora do “ver para crer”, apresentam resultado aquém do previsto, deixando os seus mais nobres idealistas frustrados. Por quê? Porque faltou Solidariedade no coração de alguns dos seus executores. Isso para não falar em Caridade, poderoso sentimento que soberanamente envolve todos os demais. (...) Há os que até agora a consideram delírio de “desvairados” religiosos ou místicos “impostores”. Binet-Sanglé (1868-1941), autor de A loucura de Jesus, de certa forma pensava assim. Hoje, na Vida Espiritual — onde fatalmente caem as escamas que ensombrecem o entendimento dos Assuntos Divinos enquanto permanecemos na carne — pode estar revendo seus conceitos.

Sem Solidariedade e sem espírito de Caridade, Estratégias de Deus, ninguém irá para a frente. O tempo mostrará aos mais céticos (...). Um dia serão quesitos fundamentais da Política (com P maiúsculo).

 

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com